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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sapataria do Español

“Tingimento de bota cano alto, passar do bege para o preto, seria bem legal se conseguisse isso para segunda, beijo.”


Era assim que estava o bilhete, em cima de um par de botas na mesa da sala quando acordei para tomar o café. Era esta a missão que a “patroa”, havia deixado.

Decidi ir ao shopping e deixar numa daquelas lojinhas tipo “Fast Food”, só que de serviços, pensei no preço e resolvi achar um sapateiro que pudesse fazer o serviço, poderia demorar um pouco mais, só que o preço com certeza seria bem mais barato. Assim pensei.

Entrei no carro e saí de role acreditando que seria fácil arrumar uma sapataria. Comecei pelas ruas das redondezas, nas cercanias de onde moro e para minha surpresa tomei logo de cara dois “não sei”. Caminhei mais um pouco, o que consegui saber é que havia poucas e que a maioria delas tinha fechado. Sem sucesso resolvi voltar ao carro e tentar um comércio de avenida, algo que tivesse um leque maior de opções.

Andei um bom pedaço de carro pela e nada consegui, estacionei e fui excursionar perguntando nos comércios com características mais antigas, ou seja, procurar alguém que soubesse das coisas e pudesse me dar uma informação correta, direta e incisiva para que pudesse resolver meu problema.

Sai andando e observando, até os comércios, de certa maneira estão pasteurizados, nivelados por uma estética mais organizada, mas nem por isso mais bela, as lojas e bazares ainda são de uma rotatividade muito grande, em poucas lojas você identifica uma existência mais perene.

Geralmente são empresas familiares, com uma relação com o bairro. Entrei em um desses bares que passam de pai para filho e logo os identifiquei proseando com dois fregueses no balcão, o horário permitia, estava um dia calmo.

Entrei e pedi a informação, o rapaz que estava ao lado do pai, ele me olhou como se eu fosse de outro planeta, me senti um ET quando ele disse espantado ”Sapataria, só no Shopping”.

O rapaz que estava sentado ao lado de uma loura(cerveja), sorriu de uma forma simpática, era do tipo sambista, negro com um bonito sorriso e uma simpatia de nobreza sem igual,”Que shopping nada malandragem os caras vão tirar os olhos do compadre aqui. Para com isso. Olha aqui gente boa, desce direto, duas ruas à sua esquerda tu vai ver a padaria estrela, duas casas depois tem a sapataria do Español, vai lá.”

Agradeci sentindo um alívio, pois cheguei a pensar em alguns minutos que realmente as sapatarias estão entrando em extinção, desaparecendo da face da terra, dando lugar as tais lojas pasteurizadas de shopping e seus serviços rápidos.

Bem estou ficando velho e mais chato ainda, é o que diriam alguns amigos. Fui descendo a rua e observando as pessoas, as botas enroladas embaixo do braço, tenho me recusado a usar sacolas de plástico, não é modismo acho um absurdo mesmo, uma agressão desnecessária a naturaleza, os mais céticos diriam que uma pessoa andando na rua já cria um impacto ambiental, mas a discussão não é esta definitivamente.

Desci a rua e andei os dois quarteirões em busca do Español. Encontrei a padaria e fui andando em sua calçada e ao final havia mesmo uma pequena porta e uma placa escrita “Sapataria do Español”.

Entrei e me deparei com uma verdadeira sapataria, o cheiro de cola era inebriante, um lugar pequeno e acanhado, com uma maquina de costurar super antiga daquelas tipo Singer industrial, vazada, perfeita para se fazer costuras bem difíceis.

Era um senhor de quase setenta anos. Andava de forma compassada e lenta, era baixo, mais baixo que eu até, usava costeletas e tinha uma cabelo todo grisalho espicaçado para cima com ar de desengonçado.

Veio até o balcão olhou as botas e uma outra sandália, virou de um lado para o outro e jogou no balcão de novo, com displicência, me olhou e disse”O que você quer?”.

”Consertar os sapatos” eu disse com uma inocência e total falta de malícia.

“Isso eu já sei, mas o que você quer fazer exatamente?” Me perguntou olhando o estado dos sapatos que eram muito bons por sinal. “Tingir de preto”, respondi de sopetão para o velho.

Ele pegou a bota novamente, examinou a sola deu duas dobradas no bico e ficou alisando o couro, “Bom este couro, é caro”, disse ainda passando a mão na bota.

“Eu sei que a bota é cara meu senhor, mas a patroa quer pintar, não há diabos que a faça mudar de idéia”, disse ainda insistindo com ele.

“Não estou dizendo que a bota é cara rapaz, estou dizendo que é caro executar o serviço, é um trabalho que precisa ser bem feito e isso demora.”

“Para quando, tem como ser para segunda-feira?”. Disse rezando para que ele me respondesse de forma afirmativa, ”Que dia é amanhã?”. Ele me devolveu de bate pronto.

Pensei por alguns segundos e respondi “sexta-feira”. Ele olhou nos meus olhos e soltou um sorriso áspero. ”Então meu, o que você quer? Amanhã está tudo fechado, tenho que ir ao Brás comprar tinta, fazer o serviço, como imagina que eu possa entregar isto para segunda-feira?”.

Enquanto ele me falava entravam duas mulheres com uma bolsa de viagem na mão, elas aguardaram enquanto conversávamos, na primeira pausa uma delas se meteu no meio de conversa e perguntou.

”O senhor troca zíper de bolsa?”. Ele sem olhar para a mulher responde, ”Grande não”.

“Ah é e porque não?”, pergunta a mulher num sorriso sarcástico, “Porque me dá o dobro do trabalho e levo muito mais do que o dobro de tempo do para fazer uma menor e ainda vou ter que escutar dos fregueses que está caro!” respondeu de forma precisa e nada auspiciosa o señor. A mulher saiu da loja sem agradecer, praguejou algo que não conseguimos distinguir u se foi.

Logo em seguida ele me olhou e disse”E você vai fazer o serviço?”, olhei para o velhote, era baixinho e toureava seus clientes o sapateiro, “Vou, vou sim quanto custa?”.

“Setenta paus, e tem que deixar um adiantamento senão eu nem pego o serviço”, disse apontando para uma plaquinha que dizia “Executamos serviços somente com 50% do valor adiantado, favor não insistir”.

Olhei para ele e peguei as duas botas do balcão, agradeci o velho e sai da sapataria um tanto puto com a atitude do velho e um outro tanto frustrado por não ter resolvido a situação. Rendi-me e fui ao shopping center ver se era mais rápido o trabalho deles, com certeza seria mais caro, mas.

No final das quantas na sapataria moderna eu pagaria cinco merréis a mais do que no velhote, mas, tinha uma diferença básica, os modernos só me entregariam dali a uma semana, ou seja, moderno e ágil estava o Español, pena que era muito emburrado.

Ainda tentei lavar um tapete chinês que carrego no carro já faz uns dois meses e nunca me lembro de parar na lavanderia para perguntar. Desta vez lembrei, fui e perguntei para a menina se faziam o serviço, ela me respondeu ”Sim senhor nós lavamos, mas este ano não estamos pegando mais serviço, só ano que vem”.Ainda pensei em falar algo,mas desisti.

Tem dias que realmente as coisas vão a rotas opostas. Saí da lavanderia e fui andando até o estacionamento gratuito de um supermercado que ficava ao lado do shopping onde deixava o carro para economizar uns trocados, entrei dei a partida e fui embora.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Balarina e seu veredicto!!

Sem mais delongas, bailarina está livre para crescer, é um abacateiro e pode chegar aos 14 metros de altura. Estava com broca segundo Rainer, uma amigo que veio cuidar da dançarina.
Enfim esta história vai literalmente dar frutos, fotos assim que ocoorer.
Abraxas!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Bailarina

Ontem fui dar um rolê com Nicolau eu estava precisando e ele também, afinal o espaço reduziu bastante na casa nova, então os dois Pitt Bulls ( eu e o Nicolau) precisam andar, queimar energia.


Tenho tentado me exercitar, fazer algo que coloque meu corpo em movimento, me livrar das quatro paredes aconchegantes do meu quarto onde não sou obrigado a falar e nem ter que ser gentil com ninguém, enfim tenho dado longas caminhadas com o velho Nicolau.

Neste dia saí algumas horas depois do jogo de futebol entre Brasil e Argentina, quase de noitinha, num horário de verão quando o dia tem horas de noite. Achei legal os hermanos nos vencerem no futebol, um joguinho horroroso, valeu pelo quase gol de calcanhar do dentuço e claro, o golaço de Messi, eles estavam precisando muito disso, sua auto-estima anda em baixa, estive lá e sei como nossos vizinhos tem se sentido.

A felicidade proporcionada a outrem deve ser observada no cotidiano, tenho tentado valorizar gestos que para mim são muito simples e que representa muito para outras pessoas. Sair com o Nico, por exemplo, é um deles, o cara é meu parceiro poderia dizer sem pestanejar que é o único ser que me ama incondicionalmente depois da minha mãe, ele esta ficando velho e cheio de manias, tem que cuidar do cara.

Mudamo-nos há quase um mês, as coisas são ainda completamente novas para todos nós, a família aos poucos vai se aclimatando ao novo bairro, conhecendo aos poucos a energia que circula, as pessoas do entorno, a pizza, a padaria, enfim tudo o que uma mudança de casa provoca na vida de uma pessoa.

A casa, por exemplo, é uma das últimas coisas que entram pra dentro de nós, a intimidade com o lugar que se mora nunca é de imediato.É estranho e peculiar a forma que se acorda durante as primeiras noites e a falta de senso geográfico do lugar onde estamos. Inevitavelmente batemos a cabeça em algum lugar, ou chutamos a cama, o acidente é quase certo.

Nestes momentos quando acordamos, ainda estamos na casa velha. Nossa alma somente repousa naquilo que nos conforta, desconfio que nestes casos, nossas almas viajam até nossos antigos quartos e por lá permanecem alguns dias, vigiando a energia que deixamos para trás, evitando que os rastros sejam seguidos por coisas que não mais nos pertencem, acho que isso explica um pouco esta sensação de casa nova que venho sentindo, estranhamento e encantamento em diversas formas.

Ontem quando estava saindo com o Nicolau, pensava na menina que serpenteava ao vento, desembaraçada, como se nada estivesse acontecendo. Acho que nem ela mesma tem noção do perigo que corre, mas fiquei seriamente preocupado com sua vida.

A primeira vez que a vi, óbvio foi na casa nova, quando abri a janela do quarto do pavimento superior. Ela estava ali, indo pra lá e pra cá, quase se dobrando em sua própria extensão, ia e vinha, num movimento de pendulo, quase como um João bobo, fiquei apaixonado.

A casa para dizer mesmo a verdade nem era lá essas coisas, tinha um banheiro horroroso, uma coisa super deprê, era pintado de rosa salmão e tinha um box todo estropiado ao lado da porta. A janela era dessas tipo de cozinha, com os vidros transparentes. Sem dúvida o banheiro mais horroroso que já tinha visto até então, na privada tinha um limo verde, enfim, a casa não tinha banheiro.

Mas tinha dois bons quartos, uma aconchegante cozinha e uma ótima edícula com quintal e um pedaço de terra em volta.

Sem contar que tinha ela, a bailarina que serpenteava em movimentos de pêndulo, quase como um João bobo, brotava muitas folhas verde claro, crescia sem medo, era realmente um espetáculo. Tinha a altura do terceiro andar de um prédio, ainda não consegui identificar sua espécie e sei que sua base infestada de cupins, ela está muito, muito alta e seu peso está fazendo ela tombar, está correndo o risco de cair e morrer.

Era nisso que pensava durante minha caminhada, encucado com a bailarina, tinha passado boa parte da tarde escavando sua base, com um ancinho e uma pazinha de mão, delicadamente ia retirando a terra em volta de suas raízes, abri um espaço de quase um metro de diâmetro, em alguns pontos havia caminhos negros donde brotava uma pasta preta, em toda a sua base se percebiam raízes infectadas por cupins, em alguns pontos saia lavas e ovos.

A bailarina esta em estado crítico, esta que era a verdade, pensava eu enquanto o Nicolau cheirava um canto qualquer.

Ando tendo invasões do meu passado, me pego em momentos cotidianos à me lembrar da voz de minha mãe, ou imagens de uma oficina mecânica explodem como bombas em minha cabeça.

Me sinto sem identidade,como um ser sem pátria, ando assassinando meus sonhos essa que é a chave da coisa. Enquanto caminho com o Nicolau pelos arredores da casa nova, eu não penso, fico apenas a observar os arredores, sentindo o cheiro das murtas, percebendo o pedaço de mundo em que estou neste momento.
Sigo meu rumo com o Nico, ao chegar em casa ainda sinto dificuldade com as chaves do portão e quando entro sinto o quando estou fora de fuso, desatinado de muitas coisas que me cercam.

Troco a água do cachorro, dou uma última olhada para a bailarina, subo as escadas para um banho.Quem sabe uma chuveirada leve embora um pouco desta tristeza vagabunda que teima em me acompanhar?
Quem sabe.


Fuerza Bruta Centro Cultural Recoleta/Buenos Aires

domingo, 14 de novembro de 2010

Equilíbrio

Tenho dado bicudas na tristeza.
Ontem por exemplo driblei minha depressão
Parei e me calei
Submergi em minutos
Meditação
Conversei com uma árvore e
xinguei todos os demônios que me surgiram na memória.
E de lambuja os santos também
Quero nada, não acredito no mundo
Não gosto de gente.
Deixe-me em meu canto escuro
Percorrendo os subterrâneos de minh’alma.
Amainar minhas desavenças com deus
Brigar um pouco mais com meus diabos
Quem sabe
Equilibrar a balança dos meus desejos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pelas ruas de Montevideo


Periquitos em trânsito Catamarca Argentina

Quarto dia ínútil...


O dia do mês, sete, quarto dia útil, um dia extremamente importante de uma parcela significativa da população brasileira.
Acordei cedo, levei a patroa pro trabalho, uma discussão banal por causa de alguma merda do cotidiano e lá se vão os cachorros soltos logo pela manhã.
Ainda antes de deixá-la, fico observando seus passos, sua respiração, me agüentar deve ser mesmo uma merda, como sou sem noção em uma maioria de vezes.
E lá se vai o carro subindo a ladeira de pedra e seus caminhos que desembocam na boca da botija, onde mora o povão.Periferia só muda o CEP, a cara é tudo igual, da saída de Interlagos, Pedreira e Diadema, tudo nivelado, por baixo é claro, pobre não precisa de beleza pra viver, se tiver uma casa já ta bom demais, mesmo que ela alague de quando em vez.
Seguindo os traços do caminho, indo pra casa e olhando os morros.Não é só carioca que vive no morro, São Paulo tem os seus também.Eles caem e se quiser dar uma passada no macaco te levo, pode crer.
No meio do morro tinha uma lona, tinha uma lona no meio do morro.Parafraseando o poeta,ao seu redor, pedaços de barracos uma chuva quase que serena caindo, mais à frente o trânsito parado, o vidro do carro embaçado, passo o pano tentando enxergar alguma coisa,
Desvio de uma pedra e noto que um pedaço da avenida caída morro abaixo. Os carros vão seguindo lentamente, alguns que passam sequer dão ao trabalho de olhar.
Entro pela mão oposta e sigo em frente, quarto dia útil, muito movimento, banco dinheiro, contas, os parcos reais indo por entre os dedos como se areia fosse.
Sigo meu rumo ao supermercado, uma certeza paira no ar,a de que iria ficar horas a fio olhando coisas e comprando, consumindo, consumindo,para comer, beber, cagar, limpar, embalar lixo separar, reciclar, coisa rara, o homem está entupindo a veias do planeta.
A lembrança do “Compra o mais barato!!”, me alertando mesmo que ausente. Meu pai falava isto todo santo mês para minha mãe e hoje em dia ainda ouço ecoar a mesma frase,só que hoje quem a professa é a patroa.Como podem perceber saí à minha mãe(habilidosa com gastos) e não à meu pai(habilidoso para esconder a grana).
Cloridrato de Paroxetina, dois goles de água, fila para entrar no estacionamento, o ar seco, o céu azul, uma espera de vinte e oito minutos até o vigia me entregar o cartão e educadamente me desejar um bom dia ao indicar o lugar da vaga no estacionamento.
Entro e não vejo carrinhos,daqueles onde se colocam as mercadorias.Me ponho a pensar. Olho para o lado e alguém se despede de um carrinho, simplesmente o solta e ele vem lentamente ao meu encontro, como num gesto combinado, uma mágica.Seguro ele e respiro fundo, sinto meu coração acelerar, um suor frio me escorre pela nuca, meus sentidos aguçados com a agitação do lugar, pessoas, muitas, muitas pessoas.
Quarto dia útil, sensação de “estar formiga”, literalmente, indo e vindo, multidão em movimentos exagerados, como em uma comédia de faces,a vida de cada um, está estampada em seu carrinho de compras, nas coisas que consome, come.
Imagine um imenso galpão, com suas prateleiras e centenas, quiçá milhares de pessoas se espremendo em um corredor, formando um rastro como se fossem formigas cortadeiras indo e vindo sem parar.
Assim caminhavam as coisas naquele dia cinzento com pedaços de avenida caídos morro abaixo, as pessoas iam amontoando coisas e coisas dentro dos carrinhos, o suor empapando a camiseta, uma enorme fobia doendo na barriga.Gente demais me assusta.
quando entro, primeira e única constatação é a de não poder me locomover com o carrinho de compras, não havia espaço físico para executar tal operação, a sensação era a de estar entalado dentro do transito caótico de São Paulo.
O esquema era largar o carrinho em um corredor e sair em busca dos proventos.
Enfim, com a lista e caneta na mão, comecei a minha saga de consumo familiar mensal.
Arroz, feijão, lentilha e macarrão, sal, açúcar, óleo, azeite, leite(desnatado), molho de tomate, atum em lata e pó de chocolate,adoçante, gelatina diet, suco em pó sempre light.
Açougue, Frios e queijos, no meio disso tudo frutas e verduras todas não muito maduras pois estraga. Não se pode esquecer claro o setor de limpeza, cândida sabão em pó, detergente, uma cera e então beleza, quase tudo acabado. Só faltava a padaria e laricas, umas teta de nega Maria e várias bisnagas.
Depois de todo este processo que levou duas horas e treze minutos de sofrimento, andando entre corredores, esbarrando em pessoas pedindo desculpas, pisando em pés, ouvindo conversas da vida alheia e exausto, sigo para o caixa com as últimas mercadorias, espero ainda 54 minutos na fila.
Este é um momento peculiar de se fazer compras em um supermercado popular, na perifa, quem áqui mora sabe como é. Uma mistura de exaustão, e desepero(no meu caso),e muita paciência.A fila não anda, as pessoas reclamam, a máquina do Cielo é super lenta, o ar é denso, tenso.
Lá na frente, uma senhorinha reclama a diferença de preço da linguiça, ergue-a com as mãos e esbraveja, colocando o dedo na cara da operadora de caixa que a observa com o desdém daqueles que ainda não sabem que envelhecem, no meio do turbilhão sua voz se destaca, chama a atenção de todos. Espinafra , fala mal da empresa que trabalha, enfim uma feira.
Ao meu redor, uma loira imensa de mais de 2 metros de altura e com mais de cem quilos, a boca carnuda, os cabelos pintados, cheirando à nicotina, acompanhada por uma outra mulher as duas deveriam ter entre trinta e quarenta anos impossível de definir, trocavam uma conversação de sacanagem e palavrões, a conversa corria solta entre as duas.
Muito estranho isso pois quando se está presente, você vive a cena literalmente, e agora ao escrever sinto emergir os detalhes, as nuances, as peculiaridades da cada um, quando se está imobilizado.Mesmo que tenha um mp3 entalado nas ventas, fica-se a observar, nada resta a não ser seguir a fila, esperar, observar, enfim deixar o tempo passar. Quando nos distanciamos da cena é que podemos lapidar, perceber os detalhes da história, as cores que vem a lembrança.
No carrinho da gigante ( vocês podem não acreditar mas ela era imensa),havia uma série de produtos. Comecei a olhar as pessoas e imaginar os atos e as reuniões sociais que cada coisa daquele carrinho iria propiciar.
Fiquei pensando em calorias, coisa de homem que é ou já foi casado, toda mulher passa metade do dia falando do peso, a outra passa falando de calorias. Bem o carrinho da “Loura”, estava completamente abarrotado de calorias, farinha(de trigo, de milho e de mandioca), bolacha, muita bolacha, uma garrafa de Old Eight, alguns energéticos, e refrigerantes, ainda algumas lingüiças e uns bifes de patinho.
Ao seu lado um magricela com os olhos grandes, no seu carrinho(versão mini), tinha apenas um pacote de frango temperado, três garrafas de cachaça, um saco cheio de limões, pães, uns quinze pães levava consigo o magrelo.
Nos corredores o barulho era agressivo e os gestos cada vez mais intolerantes “Tem tiazinha que mó forgada memu meu, vaitománocu”, falava a gigante a minha frente. Um transetê de pessoas, cada vez mais entorpecido de gente finalmente cheguei ao caixa.
Passei os proventos, gastei os rebentos, pedi a nota com CPF e olhei o menino ensacando minhas coisas.Solicitei caixas, indaguei pelo planeta dizendo o tempo que demoraria para uma sacola plástica se degradar.
Lá no fundo começaram a me mandar tomar no cu, outro cidadão me defendeu, enfim a confusão foi armada, e enquanto o debate se acalorava, eu saia, de fininho sem sacolas, com as compras todas em caixas de papelão em direção ao meu carro, cansado, duro e ainda sofrendo por ter que guardar tudo na hora que chegar em casa.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Austerlitz

Hoje me sinto como Austerlitz
Sentado em frente a Arquitetura da humanidade
Espero que meu passado atropele minhas lembranças
antes que eu surja para regatá-las.
A casa vazia,os móveis deixados para trás.
Pessoas que se foram, esvairam - se na história da vida?
Queria lembrar o rosto de cada uma delas.
Quem nunca parou à rua e ficou a mirar uma rosto desconhecido?
Tentando resgatar lá no fundo com a alma
num único feixe, uma lembrança de que nada lhe adianta.
O passado me invade sem pedir licença e
quando me abandona, deixa escancaradas suas portas abertas
que nunca se comunicam.
Sinto saudades de Mendoza, Catamarca, Buenos Aires.
Queria poder estar na rambla de Montevideo e lá poder terminar uma última página de Sebald.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Surtos

Sussurro bobagens
Rezo em um credo que não existe
Uma prece que acalme teus surtos.
Mulheres em transe
Amedrontam os piores demônios
Quem dirá um simples tolo como eu.
A caixa (de papelão) virada e o mundo esparramado em seus pés
Sinto lanhar a alma com a dor que atormenta
Bato fotos
Tomo tapas
Fico sem graça
Respiro a poeira do cimento
Surtos metropolitanos
Poesia e concreto.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ricardo Gumbleton Daunt

Onde está minha identidade?
Será que está por aí ,
A voar pelos ares.
Com meu polegar estampado
E reconhecido pelo instituto do Ricardo?

(entre uma tormenta)
Lenta garoa da terra de São Paulo
Cosme e Damiaum
Sim ainda sou do tempo que se tocava piando com a tinta nos dedos
E se juntavam algumas moedas entre meninos na rua
Tomar uma tubaína no bar
Não?
Sinto muito.
Hoje em dia
Digitais também
São digitalizadas e reconhecidas pela luz vermelha
Ela pisca
Quem é você?
Você, realmente é você?
Teima a luz vermelha
A piscar
Perguntar
Who are fucking you
Please!
Digitalidades.

Coca do mundo

O mundo anda por aí ,encarquilhado e bêbado.
Tentando se desvencilhar da cocaína humana
que circula em suas veias.
Sim , sem chance,o cara
está enlouquecendo.
Ficando muito louco de gente,
droga vagabunda,
que não dá barato.
Tem que se ligar
Do jeito que o mundo anda
Com certeza,
uma hora vai querer se matar.
Aí sim veremos.
Ou não,Vai saber né?

sábado, 21 de agosto de 2010

In Fame

Cetros ainda seguem seu caminho
mesmo que nenhuma mão
ou nenhum rei os segure,
ainda estarão lá.
Neste momento, sinto o ácido
doído e brutal
efervescendo

almost, almost all

da mesma forma.
Tinha treze anos
meus fantasmas existiam
Ainda que nenhum Hitchcok os filmasse,
ou Poe os escrevessem
mesmo assim,
ainda estariam lá.
seriam como os montros de Quintana
nos expremendo com sus olhos azuis.
Hoje não tenho mais
treze anos.
Ando pela vinte e três
numa sexta-feira à tarde.
Os óculos
escuros escondendo o rosto
A vergonha não escondendo a cara
do medo de sub existir.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

INFARTO

Taquicardias constantes
Frio
Ar seco que entala
Gargantas e gritos que urram
(SILÊNCIO)
Made your self
Sensations
Idas e vindas
Contra – mao
Sempre ao contrário
Como se fosse por opção
(CAINDO AO CHÃO, BARULHO SECO)
faróis sempre iluminam
minhas ventas
(SINTO SOPROS EM MEU CANGOTE)
tempestades de luzes
cegando não os olhos
mas a alma
como se fosse uma máquina de tatuar
barulhenta e constante
dolorosa
(ACHO QUE É O DESFRIBILADOR, DÓI PRA CARALHO)
E por mais que milhares de faróis
Venham em minha direção
Mais cego vou seguindo
Menos urbano.
(ACHO QUE FODEU)
Eu, sempre
Seduzido pela
Gordura saturada
De um saquinho de batatas fritas.(BEM, AGORA SIM FODEU)


“Desistam, nós o perdemos.”
Ainda ouço, bem lá no fundo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Guerra Santa

GUERRA SANTA

Física quântica
em teorias xamânicas.

Surdo som das palavras
do negro que
espanca o pilão .

Enquanto “Deus” passeia
em seu jardim
e encomenda
a morte de Lúcifer.

Na sexta do oito
décimo terceiro dia
numa encruzilhada
de galinhas negras.

Sapateando em ventas
Gabriel encomenda o serviço
contrata pai de santo.

Antes da batalha
lê o Corão e a Torá.

Guerra Santa

Maomé e Jesus Cristo
Stalin e Nélson Rodrigues
Lampião e Padim Ciço.

Diante do fim
Lúcifer chora
em sua cela
enclausurado
depressão pós – cocaína.

Sente na espinha
sangrando
e escorrendo
em seus pés
o gosto amargo
da traição.

Ele Lúcifer, pobre Diabo...

Ser morto numa encruzilhada
rodeado de galinhas pretas

Com Deus, Jesus e Maomé
bebendo vinho
saltando sobre sua tumba.

domingo, 7 de março de 2010

teta

Bicos
Auréolas
De farol aceso
Sex-(tet@@) vados
Perpendiculares
Movimentos circulares
Entre um ir e vir
Onde o tempo pára
Se transforma em gritos
Urros
Estremecidos
Meu orgasmo profundo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O que deu naquela louca de me beijar, olha só !!!!!!!

"O sapo não pula por buniteza, pula por precisão"(Guimarães Rosa)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Para Bertolt

Contra o caminho
Se faz relógio
Sentido anti.
Horácio
Horário de si mesmo
Partida
Som
Silêncio
Um corpo tomba.
Nos braços de um homem
Uma criança qualquer
Curiácios em rebelião
Num suplício indecente
Como se morrer
Antes fosse
Sonhar .