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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sapataria do Español

“Tingimento de bota cano alto, passar do bege para o preto, seria bem legal se conseguisse isso para segunda, beijo.”


Era assim que estava o bilhete, em cima de um par de botas na mesa da sala quando acordei para tomar o café. Era esta a missão que a “patroa”, havia deixado.

Decidi ir ao shopping e deixar numa daquelas lojinhas tipo “Fast Food”, só que de serviços, pensei no preço e resolvi achar um sapateiro que pudesse fazer o serviço, poderia demorar um pouco mais, só que o preço com certeza seria bem mais barato. Assim pensei.

Entrei no carro e saí de role acreditando que seria fácil arrumar uma sapataria. Comecei pelas ruas das redondezas, nas cercanias de onde moro e para minha surpresa tomei logo de cara dois “não sei”. Caminhei mais um pouco, o que consegui saber é que havia poucas e que a maioria delas tinha fechado. Sem sucesso resolvi voltar ao carro e tentar um comércio de avenida, algo que tivesse um leque maior de opções.

Andei um bom pedaço de carro pela e nada consegui, estacionei e fui excursionar perguntando nos comércios com características mais antigas, ou seja, procurar alguém que soubesse das coisas e pudesse me dar uma informação correta, direta e incisiva para que pudesse resolver meu problema.

Sai andando e observando, até os comércios, de certa maneira estão pasteurizados, nivelados por uma estética mais organizada, mas nem por isso mais bela, as lojas e bazares ainda são de uma rotatividade muito grande, em poucas lojas você identifica uma existência mais perene.

Geralmente são empresas familiares, com uma relação com o bairro. Entrei em um desses bares que passam de pai para filho e logo os identifiquei proseando com dois fregueses no balcão, o horário permitia, estava um dia calmo.

Entrei e pedi a informação, o rapaz que estava ao lado do pai, ele me olhou como se eu fosse de outro planeta, me senti um ET quando ele disse espantado ”Sapataria, só no Shopping”.

O rapaz que estava sentado ao lado de uma loura(cerveja), sorriu de uma forma simpática, era do tipo sambista, negro com um bonito sorriso e uma simpatia de nobreza sem igual,”Que shopping nada malandragem os caras vão tirar os olhos do compadre aqui. Para com isso. Olha aqui gente boa, desce direto, duas ruas à sua esquerda tu vai ver a padaria estrela, duas casas depois tem a sapataria do Español, vai lá.”

Agradeci sentindo um alívio, pois cheguei a pensar em alguns minutos que realmente as sapatarias estão entrando em extinção, desaparecendo da face da terra, dando lugar as tais lojas pasteurizadas de shopping e seus serviços rápidos.

Bem estou ficando velho e mais chato ainda, é o que diriam alguns amigos. Fui descendo a rua e observando as pessoas, as botas enroladas embaixo do braço, tenho me recusado a usar sacolas de plástico, não é modismo acho um absurdo mesmo, uma agressão desnecessária a naturaleza, os mais céticos diriam que uma pessoa andando na rua já cria um impacto ambiental, mas a discussão não é esta definitivamente.

Desci a rua e andei os dois quarteirões em busca do Español. Encontrei a padaria e fui andando em sua calçada e ao final havia mesmo uma pequena porta e uma placa escrita “Sapataria do Español”.

Entrei e me deparei com uma verdadeira sapataria, o cheiro de cola era inebriante, um lugar pequeno e acanhado, com uma maquina de costurar super antiga daquelas tipo Singer industrial, vazada, perfeita para se fazer costuras bem difíceis.

Era um senhor de quase setenta anos. Andava de forma compassada e lenta, era baixo, mais baixo que eu até, usava costeletas e tinha uma cabelo todo grisalho espicaçado para cima com ar de desengonçado.

Veio até o balcão olhou as botas e uma outra sandália, virou de um lado para o outro e jogou no balcão de novo, com displicência, me olhou e disse”O que você quer?”.

”Consertar os sapatos” eu disse com uma inocência e total falta de malícia.

“Isso eu já sei, mas o que você quer fazer exatamente?” Me perguntou olhando o estado dos sapatos que eram muito bons por sinal. “Tingir de preto”, respondi de sopetão para o velho.

Ele pegou a bota novamente, examinou a sola deu duas dobradas no bico e ficou alisando o couro, “Bom este couro, é caro”, disse ainda passando a mão na bota.

“Eu sei que a bota é cara meu senhor, mas a patroa quer pintar, não há diabos que a faça mudar de idéia”, disse ainda insistindo com ele.

“Não estou dizendo que a bota é cara rapaz, estou dizendo que é caro executar o serviço, é um trabalho que precisa ser bem feito e isso demora.”

“Para quando, tem como ser para segunda-feira?”. Disse rezando para que ele me respondesse de forma afirmativa, ”Que dia é amanhã?”. Ele me devolveu de bate pronto.

Pensei por alguns segundos e respondi “sexta-feira”. Ele olhou nos meus olhos e soltou um sorriso áspero. ”Então meu, o que você quer? Amanhã está tudo fechado, tenho que ir ao Brás comprar tinta, fazer o serviço, como imagina que eu possa entregar isto para segunda-feira?”.

Enquanto ele me falava entravam duas mulheres com uma bolsa de viagem na mão, elas aguardaram enquanto conversávamos, na primeira pausa uma delas se meteu no meio de conversa e perguntou.

”O senhor troca zíper de bolsa?”. Ele sem olhar para a mulher responde, ”Grande não”.

“Ah é e porque não?”, pergunta a mulher num sorriso sarcástico, “Porque me dá o dobro do trabalho e levo muito mais do que o dobro de tempo do para fazer uma menor e ainda vou ter que escutar dos fregueses que está caro!” respondeu de forma precisa e nada auspiciosa o señor. A mulher saiu da loja sem agradecer, praguejou algo que não conseguimos distinguir u se foi.

Logo em seguida ele me olhou e disse”E você vai fazer o serviço?”, olhei para o velhote, era baixinho e toureava seus clientes o sapateiro, “Vou, vou sim quanto custa?”.

“Setenta paus, e tem que deixar um adiantamento senão eu nem pego o serviço”, disse apontando para uma plaquinha que dizia “Executamos serviços somente com 50% do valor adiantado, favor não insistir”.

Olhei para ele e peguei as duas botas do balcão, agradeci o velho e sai da sapataria um tanto puto com a atitude do velho e um outro tanto frustrado por não ter resolvido a situação. Rendi-me e fui ao shopping center ver se era mais rápido o trabalho deles, com certeza seria mais caro, mas.

No final das quantas na sapataria moderna eu pagaria cinco merréis a mais do que no velhote, mas, tinha uma diferença básica, os modernos só me entregariam dali a uma semana, ou seja, moderno e ágil estava o Español, pena que era muito emburrado.

Ainda tentei lavar um tapete chinês que carrego no carro já faz uns dois meses e nunca me lembro de parar na lavanderia para perguntar. Desta vez lembrei, fui e perguntei para a menina se faziam o serviço, ela me respondeu ”Sim senhor nós lavamos, mas este ano não estamos pegando mais serviço, só ano que vem”.Ainda pensei em falar algo,mas desisti.

Tem dias que realmente as coisas vão a rotas opostas. Saí da lavanderia e fui andando até o estacionamento gratuito de um supermercado que ficava ao lado do shopping onde deixava o carro para economizar uns trocados, entrei dei a partida e fui embora.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Balarina e seu veredicto!!

Sem mais delongas, bailarina está livre para crescer, é um abacateiro e pode chegar aos 14 metros de altura. Estava com broca segundo Rainer, uma amigo que veio cuidar da dançarina.
Enfim esta história vai literalmente dar frutos, fotos assim que ocoorer.
Abraxas!