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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Para Johnny!


Sabe esses dias em que o olho abre e funciona exatamente como se fosse um desses interruptores que você aperta milhares de vezes durante sua vida, um único movimento e tudo se acende.
Bem foi exatamente isso que me aconteceu numa manhã de frio.
Estava exultante quando ainda sonolento percebi que ele tinha chegado, como gosto de dias frios e ensolarados, e esse prometia.
Mas também descobri e da pior maneira possível que no inverno, as coisas doem diferente, senti isso ao me levantar e travar feito um reumático.
Um sonoro puta que pariu me saiu da alma sem que voz nenhuma me saísse pelas traquéias, doía, como doía .
Sai capengando em busca de alguma coisa que parasse aquela maldita dor, praguejando contra o maldito colchão que tinha sido herdado hà pouco de minha querida mãe.
_ Deve ser por isso que meu pai não dormia com ela, pensei me contendo, com o mal pensado sem me conter.
Sentei para tomar um café bem quentinho e sentir meu corpo aquecendo ao sol naquela manhã de quase inverno.Estava tudo muito calmo, coisa rara, minha pequena dormia e Johnny, o trovão, estava calmo em seu quarto, calmo mas acordado. Jhony também era uma herança, a mais preciosa de todas, deixado pela minha sogra.
Na minha vida em um determinado tempo as pessoas que mais amei se foram como em uma tempestade, uma após a outra em um curto espaço de tempo e a última a partir foi Helena, a mulher das batalhas.
Sogra pra prestar é uma em seis milhões, então podemos dizer que ganhei na loteria.Mas seguindo o rumo da prosa, estava tomando meu café como já disse, sentindo ele descer lentamente, goela abaixo, esquentando meu corpo quando ouço os passos vindo em direção à cozinha.
Ele sempre fala alto, mas quando está excitado o volume é maior ainda e ele estava naquela manhã e como estava.
_ O Bá, na bunda não eu não gosto de tomar na bunda não !!!!
_ Mas porquê João, na bunda dói?
_ Na bunda eu não vou tomar não, já vou avisando!!!!
Sorri largamente, eu adorava quando ele estava sorrindo desta forma, teve uma vida dura, cercado de mulheres duras e valentes.Criado numa mistura de laço e pão de mel,estava ali descabelado com um cigarro na mão dizendo em claro e bom tom que não ia tomar na bunda.
A moça que trabalha em casa começou a rir deixando ele mais bravo ainda.Não aguentei e ri também me esquecendo por completos das costas reumáticas e do maldito colchão, que a minha mãe me perdoe.
“Na bunda eu não vou tomar “, ele repetia como se fosse uma criança, mas já tinha seus sessenta anos e no limite da sua deficiência, conseguia ser muito mais genial que qualquer um de nós que juramos ser normais, quando nunca somos e jamais vamos ser.
Não aguentei e cinicamente soltei:
_ Olha João eu muitas vezes prefiro tomar na bunda, até acho que dói menos tomar na bunda.
_ ÔÔ, para de me sacanear! Disse ele em um sorriso maroto.
_ Faz o seguinte então, chega pro médico e fala que se ele quiser, ele que tome na bunda, que você não gosta de tomar na bunda mas se ele gostar, o problema é dele.
_Pelo amor de Deus!!!Disse a moça que cuida dele,assustada com tanta bobagem.
_Olha que eu falo hein disse rindo mais uma vez
_Então fala, mande ele tomar na bunda !!!
Rimos mais um pouco e fui até a varanda. João e a empregada saíram e fiquei olhando os dois descendo a ladeira em seus passos lentos e ritmados.Olhei para aquele homem de sessenta anos e vi um menino, uma criatura abençoada que veio em minha vida me trazer um pouco de felicidade, mesmo eu não acreditando nela.
Subi e terminei meu café, momentos depois a empregada, Vanusa é o nome dela, me liga dizendo que não estava tendo a campanha de vacinação, e sim uma campanha de preservação dos dentes.
Pensei e disse pra ela antes de deligar o telefone:
_Já que ele não vai tomar na bunda , manda ele tomar na boca mesmo tá!!! e desliguei o telefone rindo.

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